Criação comercial
A comercialização legal e ilegal de animais, especialmente aves, é o terceiro mercado mais lucrativo do mundo. No Brasil, a criação comercial cresce vertiginosamente. Hoje os animais de estimação tem um papel fundamental na vida de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Pesquisas recentes mostram que a convivência com animais de estimação desempenha uma importante função terapêutica, reduzindo o stress e melhorando condições psicológicas das pessoas. Realmente, esses animais têm sido cada vez mais usados para tratamento de deficientes mentais e físicos. Estudos nos EUA mostraram que a taxa de sobrevivência de pessoas que sofreram ataque cardíaco é 50% mais longa em pessoas que possuem animais de estimação! O grande fascínio que os animais, especialmente as aves, nos causam traz um sério problema aos mesmos. O tráfico legal e ilegal de animais é o terceiro mercado mais lucrativo do mundo atrás apenas do de drogas e armas. No final da década de 80, o negócio de animais silvestres rendia para o Peru, 20 milhões de dólares por ano. No final dos anos 80, somente o Senegal exportava 20 milhões de aves anualmente. Entre 1982-88, somente a Argentina exportou mais de 920 mil papagaios verdadeiros. Com essa pressão associada à destruição de habitats, muitas espécies estão extintas ou em extinção. Esses números são de mais de 10 anos atrás. Hoje com o aprimoramento das técnicas de criação das aves em cativeiro, ficou muito mais fácil e seguro obter aves nascidas em cativeiro que proveniente da natureza. Assim, este mercado, no mundo movimenta milhões de dólares e ainda supre uma enorme rede de apoio com centenas de empresas que produzem os mais variados tipos de remédios, rações, vitaminas e acessórios diversos. Muitos destes produtos já chegaram no Brasil e o nosso mercado, hoje, está crescendo muito. Hoje a população de arara azul grande, em cativeiro, é bem maior que na natureza e é vendida pelos criadores a cerca de U$ 5.000,00. O canário chapinha, o curió e o bicudo, aves praticamente extintas no país, são amplamente criadas por pessoas filiadas a clubes. O comércio entre essas pessoas com aves premiadas nas diversas modalidades de campeonatos de canto gera incalculável soma de dinheiro. Somente um bicudo campeão pode ser vendido por quase R$ 100.000,00. Hoje, com a legalização da criação comercial essas espécies poderão ser vendidas para qualquer pessoa independente de serem filiadas a clubes. O Brasil e os demais países em desenvolvimento têm uma enorme vantagem sobre os países desenvolvidos no que concerne à criação comercial. Haja visto que os maiores criatórios do mundo localizam-se nas Filipinas, Ilhas Canárias e Palma de Malorca. Nas Filipinas, existe o maior criatório de aves de bico torto (papagaios, araras etc.) do mundo com produção anual de quase 10.000 aves! Nesse local, foram investidos dezenas de milhões de dólares. Mão-de-obra muito mais barata, custos de alimentos (frutas e sementes) bem menores e, principalmente, aquisição de aves quase gratuita são as vantagens de países como o Brasil. Enquanto na Europa adquiri-se um casal de papagaio comum por quase mil reais, no Brasil, esta ave pode ser doada pelo IBAMA, que apreende o animal no tráfico ilegal e o envia para criadores registrados que, embora não possam comercializá-las, podem usá-los como matrizes. Assim, com custo zero, um criador pode obter dezenas de aves que em outros países custariam milhares de dólares. Os custos de instalações podem variar entre alguns poucos milhares de reais a alguns milhões. Uma gaiola para curió e bicudo deve custar cerca de R$ 30,00. Entretanto, os pássaros devem ficar alojados em galpões ou quartos bem ventilados e iluminados. Um viveiro para papagaio de 3 x 1 m pode ficar entre R$ 300,00 a 500,00. Os custos para manutenção de papagaios, araras e maritacas em um criatório nos EUA variam entre U$ 0,8 a 1,5 por dia, incluindo alimentação, mão-de-obra, veterinário, seguro etc. Portanto, pessimisticamente, se considerarmos os mesmos valores dos EUA para o Brasil, o custo anual de um casal de papagaio seria de R$ 730,00 (R$ 2,00/dia). Cada filhote pode ser vendido por R$ 500,00 dando um lucro de R$ 270,00/casal/ano (2 filhotes por ano). Este lucro pode ser bem maior com a criação artificial dos filhotes, o que aumenta em muito a produtividade do país. Com pássaros, o retorno de capital vem mais rápido e os custos de manutenção são bem mais baixos, não passando de R$ 0,50/dia/ave. Um canário chapinha pode ser vendido a R$ 50,00 ou R$ 100,00; um curió a R$ 300,00, e um bicudo a R$ 500,00. A produção anual pode ficar entre três a seis filhotes prontos para venda por ano. O maior questionamento que se faz contra a criação comercial de aves silvestres é a diferença de preços entre uma ave capturada e outra criada em cativeiro. Realmente, um papagaio pode custar 1000% mais no comércio legal. É a mesma diferença entre um cachorro vira-latas e um de raça com pedigree. Na verdade, ninguém pode ser preso se possuir um cão sem registro. Realmente, muitas pessoas, até por questões financeiras, ainda irão adquirir aves no mercado negro, porém, milhares de outras irão trocar seus animais ilegais por outros legais. Outras milhares que não têm animais selvagens por medo ou ideal conservacionista irão adquirir aves legalizadas. Afinal, quem não sonha em ter em casa um lindo papagaio manso que possa falar e ainda brincar com seus filhos? Links Relacionados: Referência: Paulo A. R. MachadoNo final do ano passado, o governo brasileiro, através de seu órgão ambiental IBAMA - publicou as portarias 117 e 118 que regulamentam a criação e comercialização de animais da fauna brasileira no país. Esta medida foi um grande passo rumo à regulamentação do mercado ilegal de animais silvestres. Ela marcou uma mudança radical na política do IBAMA que agora apoia e estimula a criação comercial de animais silvestres, sendo considerada, por muitos, a medida mais eficiente tomada para efetiva redução do tráfico ilegal de animais. Felizmente, percebeu-se que antes de impedir, é melhor tentar estimular a produção legal e em cativeiro desses animais, visando suprir a demanda no mercado e poupar as populações selvagens na natureza.
Radar Animal (site de busca sobre animais)
Revista TTA, Ano 2 n°08
www.cpt.com.br/revista
Autoria do Artigo:
Biólogo da Fundação Zoobotânica de BH - MG
Especialista em criação de aves silvestres e exóticas em cativeiro.